Terceiro Capítulo: Ontem não te vi em Babilónia
“A vida é como uma sala de espectáculos; entra-se, vê-se e sai-se.”
Pitágoras
A 26 de Dezembro de 2006, um dos telejornais mais prestigiados do país inicia uma das suas tradicionais peças natalícias sobre a sinistralidade nas estradas portuguesas da seguinte forma:
“À hora do almoço de hoje, uma colisão entre dois automóveis e um pesado causou cinco mortos e dois feriados, um dos quais, o motorista do camião, que apresenta somente ferimentos ligeiros. Os que seguiam num dos veículos – pai, mãe e filho – vindos de Oliveira do Hospital, tiveram morte imediata em resultado do embate que ocorreu no quilómetro 77 do IC 2.
O acidente terá tido origem numa colisão frontal entre dois automóveis, que depois foram atingidos foram um pesado, refere fonte dos bombeiros local, que retiraram seis pessoas de dentro dos veículos danificados.”
Esta não é apenas mais uma história sobre acidentes rodoviários que ocorrem durante a época natalícia। Não é apenas mais um balanço sobre o número de acidentes e/ou mortes que a polícia realiza todos os anos. Não é apenas mais um aglomerado de números que são acrescentados aos óbitos natalícios. Não é! Esta história tem, entre os seus protagonistas, um querido amigo…Bruno Noviça.
Para os leitores e/ou espectadores que, através dos meios de comunicação, souberam deste terrível acidente no IC2, ele era apenas mais um por quem sentiam pena, para os seus colegas de faculdade era um companheiro। O Bruno não era como as outras pessoas normais. Não vivia submerso nos seus problemas nem passava os dias a queixar-se dos malefícios da vida. Muito pelo contrário! Trazia a vida nos olhos, uma vida que agarrava todos os dias em que acordava e espalhava a cada instante em que fabricava as suas horas…arredondando-as. Trazia, no seu viver, as confidências que lhe pertenciam, segredos que conquistaram os demais, mistérios, provavelmente, idênticos aos de toda a gente, banalidades de partilha, felicidades que enterneciam.
Quando te sussurravam mistérios de baú no interior da alma, visto que é nas trevas e quando menos se espera que os baús se lamentam, trazias os teus risos e gargalhadas! Era aqui que se encontrava a janela da tua alma…não nos olhos, mas aqui…no teu sorriso, no teu riso, na tua gargalhada…Aquele estar perante a vida que a muitos cativou। Numa agitação de sorrisos sem sorrir (até sério parecia que estava a sorrir), partilhavas o teu milagre, o teu saber secreto, que guardavas nos diários vividos pelos teus companheiros. Aqueles que se recordam, no silêncio do compasso da música, os momentos em que dizias “O quê?! Vamos assassinar ainda mais a literatura portuguesa?” e terminavas sussurrando pequenos risos que contagiavam os restantes. Assim, largavas os destroços de raciocínios a que os restantes viviam agarrados. Eras mais um…diferente entre os iguais.
Por isso, enquanto regressava do último “até à próxima” que disse ao “Noviça” (com as lágrimas a custarem a sair e a teimarem em não ganhar vida), olhei pela janela para um cartaz que dizia “Sorria! Está em Espanha!” e fiz o seguinte raciocínio: “Sorria! Está a pensar no Bruno!”
A ti…
Até onde a memória me levar…
Limpando a poeira dos sentidos
Rasgo os dias cansados
Frágeis como as asas de uma vida…
Até onde a memória me levar…
Nas paragens dos instantes
Percorro as linhas do teu sorriso
Soltas das paredes do mundo…
Até onde a memória me levar…
Trago tatuado nos dois lados da saudade
As insónias da melancolia
Os versos em branco do teu poema…
Até onde a memória me levar…
Nas viagens da meia-noite
O sussurro dos teus risos
Suspensos na surpresa dos entretantos…
Enquanto a luz rouba as trevas
Enquanto as cartas se queimam
Enquanto as letras se salvam
Enquanto se trocam palavras escondidas…
Até onde a memória me levar…
Deixo-te as últimas palavras que te disse, caro amigo e companheiro, na última vez que regressámos a casa do ensaio da tuna…
…।
“Fica bem! Até amanhã!”
Pitágoras
A 26 de Dezembro de 2006, um dos telejornais mais prestigiados do país inicia uma das suas tradicionais peças natalícias sobre a sinistralidade nas estradas portuguesas da seguinte forma:
“À hora do almoço de hoje, uma colisão entre dois automóveis e um pesado causou cinco mortos e dois feriados, um dos quais, o motorista do camião, que apresenta somente ferimentos ligeiros. Os que seguiam num dos veículos – pai, mãe e filho – vindos de Oliveira do Hospital, tiveram morte imediata em resultado do embate que ocorreu no quilómetro 77 do IC 2.
O acidente terá tido origem numa colisão frontal entre dois automóveis, que depois foram atingidos foram um pesado, refere fonte dos bombeiros local, que retiraram seis pessoas de dentro dos veículos danificados.”
Esta não é apenas mais uma história sobre acidentes rodoviários que ocorrem durante a época natalícia। Não é apenas mais um balanço sobre o número de acidentes e/ou mortes que a polícia realiza todos os anos. Não é apenas mais um aglomerado de números que são acrescentados aos óbitos natalícios. Não é! Esta história tem, entre os seus protagonistas, um querido amigo…Bruno Noviça.
Para os leitores e/ou espectadores que, através dos meios de comunicação, souberam deste terrível acidente no IC2, ele era apenas mais um por quem sentiam pena, para os seus colegas de faculdade era um companheiro। O Bruno não era como as outras pessoas normais. Não vivia submerso nos seus problemas nem passava os dias a queixar-se dos malefícios da vida. Muito pelo contrário! Trazia a vida nos olhos, uma vida que agarrava todos os dias em que acordava e espalhava a cada instante em que fabricava as suas horas…arredondando-as. Trazia, no seu viver, as confidências que lhe pertenciam, segredos que conquistaram os demais, mistérios, provavelmente, idênticos aos de toda a gente, banalidades de partilha, felicidades que enterneciam.
Quando te sussurravam mistérios de baú no interior da alma, visto que é nas trevas e quando menos se espera que os baús se lamentam, trazias os teus risos e gargalhadas! Era aqui que se encontrava a janela da tua alma…não nos olhos, mas aqui…no teu sorriso, no teu riso, na tua gargalhada…Aquele estar perante a vida que a muitos cativou। Numa agitação de sorrisos sem sorrir (até sério parecia que estava a sorrir), partilhavas o teu milagre, o teu saber secreto, que guardavas nos diários vividos pelos teus companheiros. Aqueles que se recordam, no silêncio do compasso da música, os momentos em que dizias “O quê?! Vamos assassinar ainda mais a literatura portuguesa?” e terminavas sussurrando pequenos risos que contagiavam os restantes. Assim, largavas os destroços de raciocínios a que os restantes viviam agarrados. Eras mais um…diferente entre os iguais.
Por isso, enquanto regressava do último “até à próxima” que disse ao “Noviça” (com as lágrimas a custarem a sair e a teimarem em não ganhar vida), olhei pela janela para um cartaz que dizia “Sorria! Está em Espanha!” e fiz o seguinte raciocínio: “Sorria! Está a pensar no Bruno!”
A ti…
Até onde a memória me levar…
Limpando a poeira dos sentidos
Rasgo os dias cansados
Frágeis como as asas de uma vida…
Até onde a memória me levar…
Nas paragens dos instantes
Percorro as linhas do teu sorriso
Soltas das paredes do mundo…
Até onde a memória me levar…
Trago tatuado nos dois lados da saudade
As insónias da melancolia
Os versos em branco do teu poema…
Até onde a memória me levar…
Nas viagens da meia-noite
O sussurro dos teus risos
Suspensos na surpresa dos entretantos…
Enquanto a luz rouba as trevas
Enquanto as cartas se queimam
Enquanto as letras se salvam
Enquanto se trocam palavras escondidas…
Até onde a memória me levar…
Deixo-te as últimas palavras que te disse, caro amigo e companheiro, na última vez que regressámos a casa do ensaio da tuna…
…।
“Fica bem! Até amanhã!”
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